Contando a história do Matrimônio como que estando a fazer uma “empatia” com o Criador, e com perdão por tamanha ousadia...
A Psicologia e todas as ciências “psi” já descobriram e estão certas ao afirmar que saber operar a arte da entropia é um segredo essencial e uma chave-mestra para todo tipo de conhecimento, sobretudo aqueles das ciências humanas.
Tem-se, de um lado a simpatia (ver o lado bom da relação e agradar-se dela, ao ponto de tratar bem o outro, com gentilezas, sorrisos e outras emoções positivas), e de outro a antipatia, que seria ver o lado ruim da relação e desagradar-se dela, ao ponto de evitar o contato ou menosprezar o outro, com grossuras, cara fechada e outras emoções negativas (muitas vezes “gratuitas”).
Tudo isso seria fácil e bastante acessível aos instintos humanos, e neste sentido não haveria um “aprendizado” intelectual dessas emoções inatas. Mas tal não ocorre com a empatia. Ela não é inata e exigiria um conhecimento prévio, além de um exercício sequenciado para alcançar solidez e controle na mente consciente.
Este artigo pressupõe ser o leitor (ou só se dirige ao leitor que seja) alguém que já controla bem a empatia, e assim seja capaz de ESCOLHER BEM o indivíduo com quem empatizar, mesmo que este indivíduo fosse hipoteticamente o próprio Deus.
Assim sendo, na hipótese de se fazer uma empatia com Deus, iremos tentar iluminar o quadro geral do Matrimônio cristão, direcionando tal conhecimento sobretudo para cristãos solteiros interessados em subir ao altar. Na empatia hipotética, temos que pensar como Deus teria planejado presentear um casal cristão com a felicidade eterna de um grande amor, que ensejasse um grande prazer e também toda harmonia e paz, naquilo que chamamos “Casamento-a-Três”.
Deus criou os seres humanos com liberdade de escolha, e sem este princípio todo o raciocínio da empatia com Deus se desfaz. Não há como nem porque empatizar com uma inteligência medrosa, que não tem coragem de criar seres livres e capazes de pensar e escolher por si mesmos. Mas Deus não é covarde, e de fato criou seres livres, autônomos e capazes de assumir sozinhos o seu destino, seja no erro ou no acerto.
Todavia e contudo, criando uma humanidade livre e autônoma, mas cujo crescimento sendo dependente de procriação sexual, Deus teve que planejar um modo de fazer com que um homem e uma mulher se unissem pelo amor, mas mantendo a harmonia e a paz. Se era necessário união carnal para a procriação e crescimento da humanidade, então a união de um homem e uma mulher teria que contemplar também a harmonia e a paz, para gerar a felicidade por ambos sonhada.
Usando como modelo de felicidade a harmonia e a paz vivenciada no seu próprio Reino Celestial, o qual sendo um Reino tem um rei e uma hierarquia e uma sociedade de súditos, podemos dizer que Deus “não sabia” (nem sabe) como alguém pode ser feliz fora da harmonia amorosa da hierarquia divina, pois esta é de fato a única felicidade que existe.
Se no único modelo de felicidade que existe subsiste uma hierarquia harmonizada com as ordens racionais de um Deus de amor, não seria possível conceber qualquer felicidade fora deste sistema hierárquico, e assim Deus ofereceu o único modelo de união perfeita entre um homem e uma mulher: o matrimônio cristão.
E o matrimônio cristão, o sétimo sacramento (tão importante que imprime caráter), só poderia ser feliz se seguisse o modelo de harmonia da pátria celestial, onde reina a hierarquia do amor de Deus, à qual todos os santos do Céu obedecem com prazer. Por isso Deus imprimiu também um modelo de hierarquia para o matrimônio cristão, como único meio de fazer uma relação entre dois seres livres durar a vida toda, sobretudo após o fracasso de toda a Humanidade ocorrido no princípio dos tempos, chamado de “A Queda”.
Após a Queda, não era mais possível criar o ambiente de harmonia no meio da Humanidade, pois a partir dela cada qual iria querer sempre fazer a própria vontade, sem jamais ceder a vez para a vontade alheia, e este conflito se iniciaria de imediato em qualquer relação social, e de modo um pouco mais demorado, numa relação amorosa (se esta fosse de fato uma relação de amor verdadeiro, feito à luz da Bíblia Sagrada). Enfim, o conflito de vontades existiria de qualquer forma, mais cedo ou mais tarde, e Deus precisava dar um jeito nisso.
Como no Reino Celestial a harmonia entre as vontades livres se dá pela amorosa obediência a Deus, o Senhor viu que somente naquele modelo residiria um modo de fazer um matrimônio terrestre dar certo, e por isso a ferramenta da hierarquia precisava ser aceita e incorporada ao Sacramento. E se assim era a realidade, Deus precisaria escolher um dos dois, o homem ou a mulher, para ser aquele que daria a palavra final, mas somente quando chegasse uma ocasião de divergência ou de conflito de vontades.
Ipso facto, enquanto o casal curtisse situações onde as duas vontades coincidissem, o sistema da hierarquia não precisava existir. Só quando houvesse conflito, i.e., vontades divergentes, então teria que haver uma palavra final. Isto é, além de perfeitamente LÓGICO, um requisito sine qua para qualquer sociedade, i.e., qualquer situação onde houvesse duas almas livres convivendo juntas.
Deus é o Criador de tudo, e por isso, tem a visão prévia ou antecipadora de todos os conflitos. E também é perfeito em previdência e providência, antecipando as soluções para os conflitos antes mesmo de eles acontecerem. E assim Deus fez o homem diferente da mulher, dando a cada um uma vantagem para cada situação da vida.
Para a mulher, Deus deu o coração mais amoroso, mais “mole”, mais emotivo, mais devotado a paixões, menos rancorosa para o perdão, mais atenta às necessidades de sobrevivência, mais hábil para ajudar à sua família, enfim, uma companheira indispensável para cooperar com o conjunto das “habilidades” masculinas.
Para o homem, Deus deu o raciocínio mais frio, menos emotivo, menos chegado ao perdão, mais atento à justiça limpa e seca, mais atento aos detalhamentos das observações de seus olhos e das razões por trás de cada diálogo, mais minucioso nas suas escolhas e menos indeciso em situações que oferecem diversas opções de solução (infelizmente, esta mente lúcida e fria do homem também o habilitou mais para a invenção de crueldades, mas isto não vem ao caso agora).
Enfim, vendo Deus os dois tipos de mente dadas aos dois sexos, intuiu que para ter a primazia da palavra final em todas os conflitos de opinião, a mente masculina se adaptaria melhor ao cumprimento da Razão e da Justiça, as quais precisam ser lógicas e frias para não causar injustiças a ninguém, e por isso Deus estabeleceu o homem como sendo o responsável por arcar com todas as decisões FINAIS tomadas na vida familiar, poupando a mulher de castigos merecidos por tomar decisões com a mente indecisa de um coração mais emotivo: o homem poderia dar a palavra final, mas pesaria sobre ele todos os castigos por decisões erradas, enquanto a mulher poderia pintar e bordar e jamais seria castigada, desde que estivesse agindo em obediência à palavra final do marido.
Assim Deus organizou o lar destroçado pela Queda Edênica, e propôs a reconstrução do modelo de convivência celestial para os lares terrestres, numa tentativa de evitar a desgraça maior da promiscuidade e do desregramento moral. E o Senhor também sabia que, embora tivesse perdido toda a harmonia do casal antes da Queda, teria que escolher dos males o menor, e o Sacramento do Matrimônio com o modelo hierárquico do Céu era a única solução, ou antes, o único remédio amargo para salvar a Humanidade.
Se todo o caos estava posto e a ele acorriam homens e mulheres ávidos pelo prazer da felicidade perdida, o Senhor interveio e ofereceu ao mundo o seu modelo e a única opção de convivência pacífica para ambientes desorganizados pela rebeldia, impondo um mínimo de ordem para minorar todo o sofrimento presente e porvir da desobediência geral à Sua Santa Autoridade. Enfim, era este o dilema que Deus enfrentou ao tentar salvar o casamento como única instituição capaz de garantir alguma felicidade no ambiente caótico da terra pós-Queda. Este era o sonho de Deus, como dissemos, um “Casamento-a-Três”, celebrado entre Ele, um Homem e uma Mulher.